O amigo que mora em minhas recordações.

03/06/2014 21:39
            Era um dia triste, fui acordado, após ser sedado pela madrugada, por minha mãe. A manhã estava tensa e os meus pais apenas trocavam olhares, como se quisessem me dizer alguma coisa, mas não tinham coragem. Após a insistência deles para eu comer alguma coisa, comi apenas um pedaço de pão sem manteiga e um pouquinho de café.
             Papai, mamãe e eu entramos no carro sem trocar nenhuma palavra e fomos para o último lugar que pensaríamos outrora que fossemos encontrar meu amigo: em uma agência funerária, dentro de um caixão.
             Quando chegamos ao velório, logo vi que estavam à beira do ataúde Roberto e Lúcia, pais de meu amigo Jorge. Os dois haviam passado a noite em claro e seus olhos estavam roxos de olheiras, seus olhares mostravam-nos os seus profundos sentimentos de tristeza e dor.
             Após a aproximação de meus pais aos de Jorge, fiquei parado em frente ao corredor que levava até a sala em que eu tive que ter muita coragem para entrar. Ao adentrar reparei que as paredes e os azulejos eram brancos, e a luz ia diminuindo-se do meio salão até chegar ao encontro de algumas coroas de flores e velas, que estavam ao lado de seu corpo, o corpo do meu colega de muitos anos.
            Quando me aproximei do cadáver, senti uma sensação muito forte que nunca esquecerei. Senti como se tudo ao meu redor estivesse parado, então, como se fosse um passe de mágica, aparecia ao meu redor vultos e imagens de nossa infância. Os momentos felizes e tristes por nós presenciados como, por exemplo, como nos conhecemos (ainda crianças), a primeira noite dele em minha casa, o meu primeiro cãozinho (foi ele que me presenteou), e também algo que eu nunca queria que tivesse acontecido com ele: a sua primeira quimioterapia, causada por um câncer de pele. A doença foi descoberta cedo, mas não o suficiente para aguentá-la.
             Quando essa visão acabou, olhei para as suas mãos entrelaçadas, toquei-as, fiz uma breve oração, e fui consolar os seus pais, que choraram muito ao verem minha comoção.
             Sempre que me perguntam se eu sinto falta dele ,digo que não, pois para mim ele não se foi, tenho certeza absoluta  de que ele ainda mora nas minhas recordações.

Autor: Thiago Carneiro.

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